O retorno de D’Angelo

14 anos depois de lançar seu segundo disco, “Voodoo”, de 2000, D’Angelo está de volta. O cantor e compositor americano de soul music lançou pela RCA, no fim do ano passado, como D’Angelo and the Vanguard, o álbum “Black Messiah”, com 12 faixas. É um retorno para se comemorar, pois o novo trabalho é realmente uma boa surpresa. Mesmo depois de tanto tempo afastado da indústria fonográfica, o cantor ainda tem algo a dizer, para nossa sorte.

D’Angelo tinha apenas 21 anos quando surgiu, em 1995, com o charmoso disco “Brown Sugar”, que vendeu 300 mil cópias em dois meses e levou o artista ao sexto lugar da parada da Billboard. Isto graças, fundamentalmente, aos quatro singles do álbum: “Lady”; “Me and Those Dreamin’ Eyes of Mine”; a música que dá nome ao disco; e ao espetacular cover de “Cruisin'”, de Smokey Robinson.

D'Angelo and the Vanguard, "Black Messiah" from RCA press site

Depois do sucesso avassalador do disco de estreia, D’Angelo lançaria, em 2000, o álbum “Voodoo”, que vendeu quase dois milhões de cópias nos EUA e ainda rendeu ao cantor o Grammy de Melhor Álbum de R&B. Não foi pouca coisa. E a fama repentina – assim como a pose de sexy simbol – parece ter sido demais para Michael Eugene Archer, o verdadeiro nome do artista. Archer, ou D’Angelo, se envolveu com drogas, foi preso por dirigir embriagado e ainda cumpriu pena por posse de cocaína.

O hiato foi longo, mas “Black messiah”, o novo disco, faz juz ao talento de D’Angelo. Não é um “Brown Sugar”, mas ainda assim é um belo trabalho. “The charade”, a terceira faixa, parece Prince em sua melhor fase. Já “Sugah daddy” é uma pérola, com ecos de Al Jarreau e Al Green. “Betray my heart”, tem uma guitarra swingada e um falsete absurdo, que vale o disco. E vai ser difícil esquecer o assovio que abre “The door”. E as letras, que misturam crítica social com malandragem cafajeste, precisam realmente de um guia. Obrigado, Vibe.

D’Angelo não devia ter demorado tanto para voltar. Discaço. Tão incrível que até o Pitchfork se rendeu e deu a incrível nota de 9,4/10. Nunca tinha visto nota tão alta. Abaixo, dá para ouvir “Black messiah”. E mais abaixo, é possível assistir ao cantor, com pinta de Gerson King Combo vestido de Zorro, em apresentação no “Saturday Night Live”. Impagável. Mas ainda bom.